A carreira de transporte rodoviário pode ser extremamente estressante, devido ao fato de que são atribuídas muitas funções aos motoristas e a cobrança se torna cada vez mais pesada. Tendo que lidar com diversas situações que vão além do trabalho em si, esses profissionais acabam tendo estressores que causam uma exaustão e chegam até a fazer com que eles desistam da profissão.
É necessário que os motoristas interajam com diversos funcionários da empresa, atendam às expectativas do cliente e representem a empresa em que trabalham. Além disso, precisam lidar com longas jornadas de trabalho pesado, prazos curtos e apertados e alguns outros fatores que fazem parte do trabalho.
Neste artigo, abordaremos os quatro principais estressores relacionados a essa profissão: solidão e perda da vida familiar, saúde e incerteza de suporte relacionado a ela, falta de respeito de várias partes envolvidas e as regulamentações governamentais.
SÍNDROME DE BURNOUT
A síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento, ocorre quando o estresse sofrido não é resolvido, gerando um impacto na vida pessoal, saúde e no desempenho dos motoristas. A psicóloga social Christina Maslach, identificou as dimensões do esgotamento e ajudou a criar formas de avaliá-lo. A pesquisa conhecida como Inventário de Burnout de Maslach: Levantamento Geral, consiste em 16 itens, leva de 10 a 15 minutos para ser realizada e mede três dimensões de esgotamento: exaustão esmagadora, sentimentos de cinismo e sensação de ineficácia.
Um estudo recente descobriu que as dimensões de esgotamento são sentidas pelos motoristas em uma ordem específica: cinismo e depois ineficácia. Mesmo tendo sido descoberto que os motoristas geralmente não consideram desistir da profissão até que atinjam a ineficácia, esperar até esse ponto para que os problemas sejam resolvidos é bastante arriscado. Por isso, iremos abordar as três dimensões, juntamente com seus estressores psicológicos relacionados.
EXAUSTÃO
Normalmente, a primeira das dimensões é a exaustão, seja ela física e/ou emocional, e ocorre pelo fato de que os motoristas registram várias horas de trabalho nas estradas ao mesmo tempo em que lidam com fatores externos como clima, tráfego restritos, interrupções, políticas da empresa, regulamentações governamentais e expectativas do cliente. Apesar de parecer extremo, os profissionais não costumam desistir da profissão somente pela exaustão.
O principal estressor relacionado à exaustão é a solidão e perda de vida familiar, pelo fato de passarem longas horas e dias em “isolamento” a centenas de quilômetros de casa. Embora os motoristas busquem essa carreira com o intuito de proporcionar uma qualidade de vida melhor para si e sua família, muitos acabam se questionando se o retorno financeiro supera o fato de estar longe de casa da família de forma recorrente. As empresas de logística se esforçam para fazer com que os caminhoneiros voltem para casa regularmente, pois o tempo com a família ajuda a reduzir o estresse. Porém, nem sempre os empregadores compreendem totalmente a importância desse tempo em casa.
A saúde dos motoristas e a incerteza de suporte relacionado a ela, é outro estressor que promove a exaustão. A falta de uma alimentação saudável e balanceada, juntamente com o desconforto de dirigir por horas em uma mesma posição são fatores que levam diretamente ao estresse dos caminhoneiros e consequentemente, vários problemas de saúde. Além disso, os motoristas que têm problemas com a saúde, tem muita dificuldade em encontrar um tratamento eficaz e acessível dependendo de sua localização.
MANEIRAS DE TRATAMENTO PARA A EXAUSTÃO E SEUS ESTRESSORES
Levar os motoristas para casa regularmente é um tratamento óbvio para a exaustão e as empresas têm se dedicado, na medida do possível, para que isso aconteça. Investir em recursos para ajudar os motoristas a se prepararem com essas questões, é um benefício não só para eles, mas também para a própria empresa. Se torna um diferencial dar um suporte para que eles consigam lidar com situações de saúde, especialmente quando estão longe de casa e isso faz com que os profissionais se sintam mais valorizados.
CINISMO
A segunda dimensão da experiência de Burnout é o cinismo. Funcionários cínicos são menos engajados, mais distantes mentalmente do seu trabalho, se separam dos colegas e dos clientes e podem adotar um tom negativo em relação aos outros. Por serem funcionários que ultrapassam os limites, o cinismo pode prejudicar as relações inter e intraorganizacionais.
O estressor que se relaciona ao cinismo é a falta de respeito que pode ocorrer dentro e fora da empresa. Motoristas de caminhão interagem diariamente com várias pessoas e relatam perceber a falta de respeito frequente de muitas delas. Isso faz com que os caminhoneiros sintam, de forma recorrente, que estão todos trabalhando contra eles. Muitos acham que os empregadores, clientes e despachantes os tratam de maneira ruim, que não apreciam o seu trabalho.
Além disso, muitos motoristas relatam que veículos menores são muito imprudentes, colocando em perigo todos os envolvidos na situação.
Outra situação apontada pelos caminhoneiros é o desprezo vivido por eles através de um salário baixo e que não corresponde ao tempo trabalhado que, geralmente, ultrapassa as 40 horas semanais.
COMO TRATAR O CINISMO E SEUS ESTRESSORES
Recentemente, muitas empresas começaram a aumentar o salário dos motoristas de caminhão em uma tentativa de reduzir a rotatividade. Embora os salários mais altos ajudem a reduzir o desrespeito financeiro vivido pelos caminhoneiros, as empresas precisarão encontrar outras soluções para os demais desrespeitos sofridos por eles.
A pesquisa mostrou que os motoristas com boas relações profissionais, reduziram os níveis de estresse, sendo mais capazes de lidar com isso. Oportunidades para que os motoristas construam uma rede social dentro da organização, são a melhor forma de reduzir o cinismo, pois, os ajudam a reduzir a solidão que eles sentem na estrada. Além disso, as relações entre motoristas e empregadores/despachantes podem gerar mais respeito às interações no futuro.
Promover um tempo extra para o encontro de motoristas e clientes para discutir expectativas e desafios, podem levar a interações mais positivas no futuro e ajudar a reduzir o desrespeito vindo de quem está fora da empresa.
INEFICIÊNCIA
A fase final de Burnout se resume a ineficiência, onde os motoristas perdem a confiança em suas habilidades e se sentem improdutivos e incapazes. A ineficácia também pode ser resultado da crença de que a organização não pode ou não fornecerá as ferramentas necessárias para o sucesso. Uma vez que os motoristas passam a sentir ineficácia, é provável que procurem uma outra carreira para seguir, gerando assim a rotatividade dentro da empresa.
As regulamentações organizacionais são a quarta maior fonte de estresse relacionada ao trabalho do motorista de caminhão, pois, eles as enxergam como uma fonte de desrespeito. Muitos acreditam que estão sendo injustamente visados pelo sistema regulatório. Regulamentações governamentais podem contribuir para a ineficácia quando os motoristas não entendem a intenção por trás de novas leis ou sentem que os regulamentos o tornam incapaz de realizar o seu trabalho de maneira efetiva.
ABORDANDO A INEFICÁCIA E SEU ESTRESSOR RELACIONADO
É necessário que os empregadores dêem aos motoristas orientações sobre as expectativas que devem atender para ter sucesso. Mesmo que as empresas não possam controlar as regulamentações governamentais, é de extrema importância que elas lutem contra a ineficácia de seus funcionários, dedicando recursos para o melhor entendimento das regulamentações por parte dos motoristas.
Fornecer apoio social aos caminhoneiros, faz com que eles se sintam capazes e eficazes em suas funções. O apoio pode ser dado através de reuniões, seminários, programas de redução de tensão, programas de bem-estar e treinamento de desenvolvimento de habilidades. As relações positivas entre motoristas e colaboradores da empresa são outra forma de apoio social que ajudam na valorização, reconhecimento e construção de autoestima dos motoristas de caminhão.
FONTE: TRUCK DRIVER BURNOUT: